terça-feira, 8 de abril de 2008

O Instituto Francês do Porto - Praça da Républica

Na Praça da Républica há um edifício, ou melhor, uma mansão, que sempre me trouxe boas memórias e saudades.
A primeira vez que nele entrei, teria suponho, uns 13 ou 14 anos e foi para frequentar aulas de francês. Mais tarde voltei lá para vêr algumas sessões especiais de cinema e recordo-me particularmente de uma que mudou a minha vida. A exibição de uma curta-metragem e de uma longa "Sempre Xonxa" seguida de conversa com o realizador Xano Piñero, entretanto já falecido. Havia já algum tempo que andava a pensar trocar o meu projecto de seguir Direito, pelo projecto de seguir Cinema e essa sessão serviu para em definitivo optar pela segunda, se bem que tenha acabado a fazer Interpretação e Teatro, profissão que ainda hoje exerço com enorme prazer.
Mais tarde regressei para frequentar a biblioteca do Instituto Francês (instituição que sempre me lembro de ter ocupado aquele casarão), onde requisitava cds, videos (lembro-me de ter visto a filmografia completa do Jacques Tati) e livros, sobretudo de teatro. Mas às vezes também ficava por lá, colocava o video no aparelho e passava a tarde a visionar filmes ou coreografias do Philippe Decouflé.
Em 2000, o Instituto Francês do Porto apoiou-me na minha produção e encenação de "Três Peças de Jean Tardieu" que estreou no dia 8 de Outubro no Pequeno Auditório do Rivoli - Teatro (ainda) Municipal.
A seguir fui trabalhar para Viana do Castelo e quando regressei o Instituto Francês do Porto tinha fechado as portas. Quando fui viver para a Praça da Républica as portas fechadas tornaram-se uma tristeza ainda mais presente e uma angustia submergiu quando colocaram uma placa a dizer "vende-se". Mais tarde retiraram-na e vi gente a entrar e a sair, pensei que tinha sido vendido, mas deduzi que não, pois aquela gente que entrava e saía tratava apenas de esvaziar o seu interior. Mas este pormenores servem apenas para dizer que estive sempre atento às movimentações porque a memória daquele casa nunca morreu em mim e, talvez tenha sempre existido aquela que é "sempre a última a morrer"...
Hoje de manhã a tristeza invadiu-me.
Um incêndio deflagrou esta madrugada e matou a esperança.

14 comentários:

Anónimo disse...

Tiraram a placa a dizer vende-se, começaram a tirar coisas lá de dentro e de repente um incêndio, num dia de chuva e temperaturas baixas? Muito bem!

Mary disse...

a mae de uma minha amiga trabalhou lá toda a vida...calculo a tristeza...

Rui Spranger disse...

Também pensei na mesma coisa, Jorge.

Anónimo disse...

Grandes ciclos, sem grandes condições é certo, de cinema para quem queria aprender o que era o cinema além do mainstream americano. Grandes professores, humanistas os que conheci, embora nunca tenha conseguido aprender decentemente a língua. Tristeza e desconfiança, sim, também.

Anónimo disse...

Eu também tenho uma pequena história.
Tinha uns 15 anos, fui visitar o Instituto com a turma. Havia Kareoke! Ninguém queria cantar, mas eu, dotado de talento, fiz uma das interpretações mais monstruosas do Ne me quitte pas.
Infelizmente, na altura, vimos o I.F. como uma mera sala de estudos sem qualquer tipo de interesse. Tirando o kareoke, nada mais nos cativou porque também ninguém fez por isso.
Para te situar, terá sido entre 96/97.

Unknown disse...

Pois tiramos as placas a dizer vende-se, compramos o edifício para o restaurar. Aliás a restauração do interior, degradado pela inclemência do tempo e o descuido dos homens, estava praticamente concluída. Quanto ao exterior faltava reparar os telhados e pintar as fachadas.
Foram retiradas coisas do interior, a que se refere? O interior estava completamente despido de qualquer objecto de valor para além da beleza de uma construção outrora magnífica e agora perdida para sempre....
Muitas horas, dias, semanas, meses e anos (3) perdemos para tentar devolver esta jóia à cidade do Porto, foi uma tragédia irreparável.

José Bilhoto
ISIPsa - Instituto de Saúde Integral de Portugal, S.A.

Rui Spranger disse...

Caro José, lamento imenso a perda.
Sei que havia um projecto para o edifício. Como deve compreender esteve uma noite de chuva intensa e é natural que a toda a gente (e provávelmente a si também) pareça estranho que tenha ardido por completo, ficando aquela ruína triste ao olhar.
Quando falo em tirar as coisas, não referi quando isso aconteceu, mas digo-lhe que foi antes de colocarem a placa “vende-se”.
Só falei num ou noutro episódio para reforçar a ideia de que aquela casa não me era indiferente, como continua a não ser.

Luciana Salles disse...

A tristeza e o choque foram indescritíveis quando vi o que restou do Instituto Francês...Fui aí aluna, de excelentes professores aos quais devo a qualidade do francês que me ensinaram.
Tenho imensas e boas recordações desse palacete...das pessoa que aí trabalhavam, dos professores que abraçavam o francês e seu universo com tanto amor...
Fica um vazio imenso na cidade e na memória física de todos aqueles que passaram pelo Instituto Francês do Porto.

Anónimo disse...

Então depois do Instituto ter ardido onde vamos encontrar os docomentos relativos aos alunos,que concluiram o curso de Francês em 1979 e agora pretendem saber dos seus estatutos como alunos, pois agora têm tempo para poder fazer o que não fizeram, por Ex:Lecionar.

Anónimo disse...

Gostaria que todas estas perguntas fossem respondidas e nos indica-se onde nos devemos dirigir, para nos informar o que devemos fazer. Pois um trabalho arduo e empenhado. Falta de meios, transporte, orientação,material didático, para concluir o curso de Françês do Instituto do Porto, tenho o diploma do 5.º ano do curso de Francês do Instituto do Porto. Que fazer?

Rui Spranger disse...

Imagino que quem lhe poderá dar informações sobre os seus estatutos seja o departamento cultural da Embaixada de França

Anónimo disse...

Ola bom dia Sr.Rui Spranger peço desculpa utilizar este meio para um assunto que talvez me possa ajudar
Como poderei obter um diploma de Francês curso efectuado neste instituto de francês da praça da Ré publica.

Atentanente,
Paulo Moura

Rui Spranger disse...

Caro Paulo Moura,
Sinceramente não lhe posso dar uma resposta precisa, mas o Instituto Francês tinha sido fechado muito antes do incêndio e todo o material que lhe era pertence já lá não se encontrava. Como era uma instituição directamente ligada a Embaixada de França, creio que poderá obter informações junto do consulado de França na Avenida da Boavista.

Anónimo disse...

Para:Sr. Rui Spranger

Agradeço a sua amabilidade e simpatia
pela sua resposta, lamento ter só visto a sua mensagem agora mas o meu muito obrigado e felicidades.

Paulo Moura