segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Hoje há Noite de Poesia no Pinguim - Bom Natal a todos!!!!

DIA DE NATAL

Hoje é dia de ser bom.
É dia de passar a mão pelo rosto das crianças,
de falar e de ouvir com mavioso tom,
de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças.

É dia de pensar nos outros – coitadinhos – nos que padecem,
de lhes darmos coragem para poderem continuar a aceitar a sua miséria,
de perdoar aos nossos inimigos, mesmo aos que não merecem,
de meditar sobre a nossa existência, tão efémera e tão séria.

Comove tanta fraternidade universal.
É só abrir o rádio e logo um coro de anjos,
como se de anjos fosse,
numa toada doce,
de violas e banjos,
entoa gravemente um hino ao Criador.
E mal se extinguem os clamores plangentes,
a voz do locutor
anuncia o melhor dos detergentes.

De novo a melopeia inunda a Terra e o Céu
e as vozes crescem num fervor patético.
(Vossa excelência verificou a hora exacta em que o Menino Jesus nasceu?)
Não seja estúpido! Compre imediatamente um relógio de pulso antimagnético.)

Torna-se difícil caminhar nas preciosas ruas.
Toda a gente acotovela, se multiplica em gestos esfuziante.
Todos participam nas alegrias dos outros como se fossem suas
e fazem adeuses enluvados aos bons amigos que passam mais distante.

Nas lojas, na luxúria das montras e dos escaparates,
com subtis requintes de bom gosto e de engenhosa dinâmica,
cintilam, sob o intenso fluxo de milhares de quilovates,
as belas coisas inúteis de plástico, de metal, de vidro e de cerâmica.

Os olhos acorrem, num alvoroço liquefeito,
ao chamamento voluptuoso dos brilhos e das cores.
É como se tudo aquilo nos dissesse directamente respeito,
como se o Céu olhasse para nós e nos cobrisse de bênçãos e favores.

A oratória de Bach embruxa a atmosfera do arruamento.
Adivinha-se uma roupagem diáfana a desembrulhar-se no ar.
E a gente, mesmo sem querer, entra no estabelecimento
e compra – louvado seja o Senhor! – o que nunca tinha pensado comprar.

Mas a maior felicidade é a da gente pequena.
Naquela véspera santa
a sua comoção é tanta, tanta, tanta,
que nem dorme serena.

Cada menino
abre um olhinho
na noite incerta
para ver se a aurora
já está desperta.
De manhãzinha
salta da cama,
corre à cozinha em pijama.

Ah!!!!!!!

Na branda macieza
da matutina luz
aguarda-o a surpresa
do Menino Jesus.

Jesus,
o doce Jesus,
o mesmo que nasceu na manjedoura,
veio pôr no sapatinho
do Pedrinho
uma metralhadora.

Que alegria
reinou naquela casa em todo o santo dia!
O Pedrinho, estrategicamente escondido atrás das portas,
fuzilava tudo com devastadoras rajadas
e obrigava as criadas
a caírem no chão como se fossem mortas:
tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá.
Já está!
E fazia-as erguer para de novo matá-las.
E até mesmo a mamã e o sisudo papá
fingiam
que caíam
crivados de balas.

Dia de Confraternização Universal,
dia de Amor, de Paz, de Felicidade,
de Sonhos e Venturas.
É dia de Natal.
Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade.
Glória a Deus nas Alturas.

António Gedeão

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Pé de Vento - 30 anos!

Inaugura amanhã, sábado dia 13 às 16h, na Galeria da Biblioteca Almeida Garrett a exposição dos 30 anos de vida do Pé de Vento. Um percurso pelos cenários, figurinos e adereços de uma grande parte dos espectáculos produzidos pela companhia. Na abertura, estarei lá a ler textos poéticos que fizeram parte de algumas dessas produções.
No dia 20, também no mesmo espaço, dar-se-á início à reposição de “História do Sábio Fechado na Sua Biblioteca” de Manuel António Pina, na qual participo como actor e que estará em cena até ao dia 1 de Fevereiro.
Apareçam!

O Livro da Selva


terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Notícias de um ausente

Há já muito tempo que não venho aqui dar notícias e os meus amigos devem estar já a pensar que eu desisti do blog, mas não.
O trabalho ocupou todo o meu tempo. Entre o “Palavras Que Vos Quero” no Teatro da Vilarinha, o “Presença da Poesia” no mesmo teatro, as segundas-feiras de poesia no Pinguim, as quintas de escrita surrealista no mesmo bar, os II Encontros Mário Cesariny na Cupertino de Miranda em Famalicão, a gestão dos recursos humanos no musical “Fame”, o apoio na direcção de actores na reposição em Sintra de “Peter Pan, O Musical” e a direcção artística e encenação do espectáculo “O Livro da Selva” que estreou no dia 28 no Teatro da Avenida em Vila Nova de Gaia (junto ao El Corte Inglés) tornou absolutamente impossível vir até aqui dar notícias.
Entretanto, espero que apareçam às segundas e quintas no Pinguim Café e que vão até Gaia vêr “O Livro da Selva”.
Numa proxima oportunidade, farei um post mais detalhado sobre este último trabalho.
Até já!