terça-feira, 29 de abril de 2008

25 de Abril Sempre!

Dois princípios regeram aquela que foi para mim a melhor comemoração do 25 de Abril da minha vida. Não ter fins políticos nem económicos.
Fartos de festas em bares, discotecas ou concertos camarários, um grupo de pessoas organizou informalmente uma verdadeira festa convívio. Apenas com o boca a boca a funcionar, participaram activamente na festa algumas dezenas de pessoas.
O local não poderia ter sido mais simbólico. A Associação de Moradores de Massarelos, instalada num antigo armazém de bacalhau ocupado pelos populares após o 25 de Abril e que hoje acolhe um infantário e um lar de idosos gerido pela associação.
Os Comvinha Tradicional também ensaiam lá e em tempos foi palco de muitos espectáculos de teatro do Art’imagem que também teve a sua sede naquele espaço durante vários anos. Mas também houve vários concertos entre os quais destaco dois do Zeca Afonso.
Portanto o local foi para mim o ideal. Depois, há que falar na participação activa dos moradores que colaboraram na preparação do extraordinário jantar para os intervenientes coordenado pelo chefe Miguel, na preparação de bifanas, moelas e afins, para que os espectadores não morressem à fome ao longo da noite e na distribuição de cravos por entre a assistência. Até parecia que havia uma grande estrutura organizativa por trás do evento e, na verdade até houve, a estrutura da boa vontade.
A introdução já vai sendo longa e há que passar à festa que começou no exterior com o “Circulo do Fogo” um projecto desenvolvido pelo Julio com alunos da Escola Soares dos Reis. Foram 20 minutos com muita percursão e muito malabarismo com fogo que deixaram crianças e adultos pasmados. Depois, conduzidos pelas percursões do “Circulo do Fogo” os espectadores foram encaminhados para a sala de espectáculos e quando estavam já instalados entrou em off o “Comunicado radiofónico do MFA” a que se seguiu os passos dos militares na areia do “Grândola” e a Cláudia Novais fez a sua primeira aparição, lendo por cima dos passos o “Qual a Côr da Liberdade” do Jorge de Sena. Sempre com os passos de fundo veio o instrumental em gaitas de foles do «Grândola Vila Morena » e o público não resistiu a cantá-la como pôde. Toda a gente estava com os braços no ar segurando os cravos e cantava a plenos pulmões e a letra saía anarquicamente vinda do fundo de cada um. Foi lindo!
Depois subiu ao palco a Virgínia Silva que nos contou a história da criação da Aministia Internacional que teve origem num acontecimento português durante a ditadura e leu dois poemas, um da Natália Correia e outro do Mia Couto. O recente projecto da Sara e do Blandino estreou-se ao vivo. F.I.M (Filhos de um Instrumento Menor) junta música portuguesa tradicional e composições originais tendo como base a voz e a guitarra que funcionam na perfeição. Um projecto a acompanhar activamente no futuro.
Joaquim Castro Caldas esteve ao seu melhor nível e a plateia esteve ao rubro.
Os “Miscaros” mantiveram o entusiasmo criado pelos F.I.M. e pelo Joaquim, com as suas gaitas e percursões.
Como se festejava a Liberdade a Cláudia Novais leu um texto da sua autoria no qual falava do resultado que o 25 de Abril teve para ela. Um resultado tão comum a muitos portugueses, nos quais me incluo eu, que foi o ter de abandonar a terra onde tinha nascido e com a família ter que começar de um momento para o outro uma vida nova num país que era e não era o deles. Uma realidade traumática que deixou os espectadores em silêncio absoluto e no fim as palmas demonstraram a solidariedade de todos os que ali estavam.
Li com a Cláudia o “Para Além da Trafaria” do António Gedeão e depois continuei com “Abril de Sim e Abril de Não” do Manuel Alegre e fora do programa, um poema que o Joaquim Castro Caldas tinha escrito naquele dia sobre o 25 de Abril.
A Associação tinha feito no dia 20 de Abril 32 anos de existência e aproveitou-se a ocasião para se cantar o aniversário, soprar as velas e comer o bolo. O bar era pequeno para tanta gente, mas apertadinhos lá se foi dançando ao som das gaitas e dos bombos.
Depois do baile, os Comvinha Tradicional e todos os músicos que actuaram na noite subiram ao palco para a “Comvinha Jam” que viria a terminar a noite por volta das 2h30 da manhã. Creio que até teria terminado mais tarde se a cerveja não tivesse acabado.
Enfim, foi uma noite em pleno, com animação de grande qualidade e por onde terão passado entre 300 a 400 pessoas dos 5 aos 95 anos de idade.

3 comentários:

Unknown disse...

A Cláudia Novais é comunista!

Cláudia S. disse...

Foi uma noite muito bem passada...adorei ter participado... diverti-me muito e aprendi bastante com toda as pessoas que estavam lá. Beijinhos e mais uma vez obrigada por me teres convidado.

Anónimo disse...

Ler o que escreves, é como, se com a maior clareza do mundo, tivesse estado presente na festa. Os arrepios abundam, o orgulho daqueles nobres soldados borbulha e a felicidade, normal de uma festa, floresce, tudo devido às tuas palavras.
Não consigo deixar de te admirar por aquilo que és, pelo excelente profissional que demonstras-te em palco no trabalho que fizemos juntos, pelas grandes conversas que tiveste comigo, das lições, gratuítas, que me deste e pela tua enormíssima simplicidade e, não menos, humildade. Para mim, como os grandes mestres que me formaram, és, simplesmente, mais um que eu vejo de cá do fundo, mas que, com todas as minhas forças, ambiciono vir a ser.
Em suma, não podia ter maior sorte do que te ter como meu Padrinho!!


Fábio Sousa