Tinha prometido fazer um balanço do 3º Circunvalação à Noite, mas com os posts que já fiz e com a crítica especializada feita por Pedro Vasco Oliveira para o Primeiro de Janeiro, que em baixo transcrevo, o balanço pode dizer-se já feito.
No geral foi um sucesso. A qualidade dos projectos foi excelente, as condições técnicas também, a Imprensa deu uma boa cobertura ao evento e o público acorreu em muito maior número que nas edições anteriores.
Fiquei também feliz por vêr que houve muito mais espectadores a fazerem o pleno dos concertos.
Apesar disto tudo, continuam a faltar patrocínios para que este projecto possa ser viável financeiramente e mais público para as bandas emergentes (este é um dos pricípios basilares do Circunvalação à Noite, a divulgação e promoção de novos projectos musicais).
Para terminar este breve balanço, não posso deixar de agradecer ao Pé de Vento a possibilidade, o apoio e a confiança que me tem dado neste projecto, bem como ao João Ramoa e ao Ugo que foram incansáveis para que a qualidade do som estivesse ao melhor nível.
Agradecimentos também ao Pinguim Café, Comvinha Tradicional e João Ramoa pelo patrocínio que nos tem dado desde a primeira edição do Circunvalação e ao Labirintho, Contagiarte, Giradiscos/Edifício Era Uma vez no Porto e Casa Viva por terem colocado bilhetes à venda nos seus espaços.
1.
Cantora dos Três Tristes Tigres abriu o III.º Circunvalação à Noite
Ana revisita Deus
Ana Deus, com uma espécie de biografia musical… e não só, abriu o III.º Circunvalação à Noite, perante um público interessado e que praticamente encheu a plateia do Teatro da Vilarinha, no Porto. Hoje, o «Ciclo Spoken Words» encerra com a actuação de Adolfo Luxúria Canibal.
Pedro Vasco Oliveira
O 3.º Circunvalação à Noite arrancou anteontem com a actuação de Ana Deus, num espectáculo em que a cantora revisitou o percurso de vida, grande parte feito em cima do palco.Uma espécie de biografia musical que a cantora explanou desde os seus tenros oito anos de idade em que cantarolava até à exaustão os grandes sucessos do Festival Eurovisão da Canção e outros do Portugal cinzento dos tempos do Fascismo. Um ano volvido estava a pisar o palco pela primeira vez…O espectáculo começa com Ana Deus a reencontrar-se com a sua voz (que se ouvia em off) já em palco, para partir numa viagem pelo tempo e por uma carreira que teve como último capítulo a performance de quinta-feira à noite.Valendo-se de textos de Ernesto Melo e Castro, Regina Guimarães e José Mário Branco, Ana Deus percorreu o que tem sido a sua vida neste Portugal, em geral, e no Porto, mais em concreto.As projecções vídeo de Amarante Abramovici e a manipulação de objectos projectados em tempo real, qual caleidoscópio, de Paulo Ansiães Monteiro emprestaram um brilho extra à performance da artista.Mas confundindo-se o seu percurso de vida com a carreira musical que vem desenvolvendo, os projectos mais significativos que encabeçou não podiam nem ficaram de fora: Três Tristes Tigres e Ban.Já agora e a propósito: “Dá-me um ideal, imaginário, popular, avançado”!Dissertando, cantando, vocalizando, representando, intervindo, Ana Deus traçou o próprio retrato musical, atravessando décadas e demonstrando porque é uma das grandes vozes que temos em Portugal.Depois do palco ter estado entregue ontem ao projecto Godot, hoje, no fecho do «Ciclo Spoken Words», do Circunvalação à noite, Adolfo Luxúria Canibal e António Rafael lançam «Estilhaços» sobre uma plateia que se espera esteja, pelo menos, tão composta como anteontem, em que poucos eram os lugares vazios.O espectáculo protagonizado pelos dois elementos dos Mão Morta baseia-se no livro homónimo de Luxúria Canibal.
in o Primeiro de Janeiro de 19 de Janeiro de 2008
2.
Godot revela-se a surpresa do 3.º Circunvalação à Noite
Sem esperas, nem demoras
Ambiente sonoro intenso a servir de cama à palavra poética de Mário Cezariny e John Clare, entre outros, foi a óptima proposta que os Godot levaram, sexta-feira, até ao Teatro da Vilarinha, onde ontem encerrou o «Ciclo Spoken Words», do 3.º Circunvalação à Noite.
Pedro Vasco Oliveira
Bela surpresa que o segundo dia do Circunvalação à Noite proporcionou ao público que se deslocou ao Teatro da Vilarinha para assistir a mais um capítulo do «Ciclo Spoken Words».O palco esteve por conta dos Godot, projecto de Santo Tirso, que faz da palavra poética o eixo sobre a qual giram as suas criações. De facto, Mário Costa (voz), Sara Ribeiro (teclados e acordeão), Miguel Marques (guitarra) e Nuno Rabino (bateria) fomentam uma ambiência sonora bastante estimulante e que serve de bandeja à palavra dita (leia-se cantada). Apoiada no choro lânguido da guitarra, que encontra na sonoridade dos teclados a plataforma ideal para criar ambiente, a voz forte, mas melodiosa de Mário Costa debita palavras de Mário Cezariny, mas também de outros autores, como por exemplo John Clare.As projecções vídeo de Luís Dias favorecem em grande medida a atmosfera que os Godot procuram em palco, um misto de luz/sombra, em que o cinzento impera e por onde a palavra emerge grave e acintosa, para que não restem dúvidas sobre o que é dito. A sonoridade intensa deste colectivo que ainda nem um ano tem de existência cativa e agarra o ouvinte.«Outra coisa», «Corpo visível», «Intensamente livre», «Eu sou… Sei que sou», «Mary», «Autografia II» e «A António Maria Lisboa» foram os temas que durante cerca de uma hora os Godot ofereceram ao público, que apesar de menos numerosos do que no dia anterior, teve oportunidade de ver e ouvir um projecto que se revelou uma agradável surpresa, pela qualidade apresentada e pela que ainda pode alcançar. A ideia almejada pelo grupo e a forma como a põem em prática deixa antever um futuro risonho ao projecto.«Autografia II», de Cezariny, foi o momento mais intenso e bem conseguido da actuação dos Godot, que se espera não façam o público esperar muito para os poder ver novamente.
in o Primeiro de Janeiro de 20 de janeiro de 2008
3.
Luxúria Canibal fechou «Ciclo Spoken Words»
A realidade ficcionada de «Estilhaços»
O «Ciclo Spoken Words», do 3.º Circunvalação à Noite, fechou em excelência. Adolfo Luxúria Canibal lançou os seus «Estilhaços», que não são mais do que episódios biográficos, relatados num registo de realidade ficcionada.
”De estrelas nada sei…”. Adolfo Luxúria Canibal inicia assim a leitura de alguns dos textos retirados do seu livro «Estilhaços», e que não são mais do que passagens, memórias, momentos de uma vida que vem desde a infância até ao presente… da obra.Com António Rafael, nos teclados e guitarra, e Henrique Fernandes, no contrabaixo – sem dúvida uma mais-valia para o projecto –, o «frontman» dos Mão Morta desfia alguns episódios entre o real e a alucinação, presentes no livro que não é mais do que uma possível biografia do autor.Sentado a uma secretária, onde um pequeno candeeiro ilumina as palavras nas folhas brancas do livro, Adolfo declama, disserta, recorda…O ambiente sereno e tranquilo que marca o registo em que «Estilhaços» decorre, potencia a voz grave, cavernosa e rouca de Luxúria Canibal.«De estrelas nada sei», «Noite transfigurada» e «A filha surda» foram os três textos que abriram a actuação no esgotado Teatro da Vilarinha, dando ideia, desde logo, de qual é a proposta do artista, que encontra na realidade os grandes retratos transcritos no livro que empresta o nome ao espectáculo.De histórias em que o avô é uma das personagens principais, a outras em que o seu pequeno filho surge como um dos seus interlocutores, numa viagem temporal, Adolfo Luxúria Canibal conversa com as palavras por entre as notas emanadas dos teclados e do contrabaixo.«O tempo que passa», «Braga, meu amor» e «White light/White heat» integraram também o alinhamento deste «Estilhaços» versão Circunvalação à Noite.A performance fechou com «O homem aos saltos», em que o autor exulta a condição de ser livre: “A rir das cócegas da liberdade”.
P.V.O.
in o Primeiro de Janeiro de 21 de Janeiro de 2008
terça-feira, 22 de janeiro de 2008
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