domingo, 2 de março de 2008

História do primeiro piquenique poético - 1

O dia nasceu cinzento e pouco convidativo para um piquenique.
A natureza quis pregar-nos uma partida para o primeiro piquenique poético, talvez para testar a nossa resistência.
Tive que ir a Viana do Castelo no fim da manhã e, só conseguimos chegar ao Porto às 15h, hora prevista para o início do piquenique. A Virgínia já tinha enviado uma mensagem para saber se se faria com o tempo assim. No início disse que sim, mas acabámos por sucumbir ao frio que se sentia e com um novo telefonema desmarca-se o encontro. Por descargo de consciência, eu, a Lisa e a minha mãe fomos ao Parque de S. Roque, não fosse alguém aparecer.
Quando chegámos, sem comida e sem livros, já lá estava a Maria com dois sacos, um com o farnel e outro com livros. Alguém menos cobarde do que nós estava ali para o que desse e viesse.
Decidimos dar uma volta pelo parque e atrás de nós, em passo apressado, chegam o Élio e a Sílvia, sem comida também, mas com livros. Prosseguimos o passeio, o Élio tinha levado a câmara fotográfica para registar imagens do primeiro piquenique poético (que mais tarde colocarei aqui) e lá parámos para tirarmos umas fotos com o rio Douro como pano de fundo.
Depois de dada a volta ao parque, ainda duvidávamos se faríamos o piquenique. Só a Maria levava comida e a humidade era muita e o frio também, mas lá nos sentámos numa mesa de granito e atacámos o farnel da Maria que ainda assim, conseguiu levar alguma comida de volta para casa. Enquanto comemos as atenções centraram-se nos livros e começaram as leituras que trouxeram novidades para todos, com poemas e poetas desconhecidos para alguns de nós.
Só me lembro de alguns nomes (o dos mais conhecidos) de poetas que foram recitados: Miguel Torga, Sam Sheppard, Daniel Jonas, Alberto Pimenta, Ana Pereira, Jorge Sousa Braga, Florbela Espanca, Mário de Sá-Carneiro, dois poetas que tinham Rui no nome e outros.
No fim, concordámos todos que repetiriamos para a semana e no mesmo sítio, porque devido ao frio não pudemos aproveitar devidamente, nem aquecer realmente o ambiente com a poesia que foi lida num tom muito morno e tímido. Mas por sugestão da Maria, no próximo domingo haverá uma surpresa que será bem divertida e que surpreenderá quem no parque ande a passear.
Para terminar este relato, cabe-me pedir imensas desculpas à Virgínia que pela nossa (minha e da Lisa) pouca fé, acabou por ficar em casa com um bolo que tinha estado a fazer para o piquenique.

3 comentários:

Virgínia disse...

Desculpas aceites, mas, já que fiquei com um bolo de chocolate em casa, deixo inscrito um poema da minha autoria para inaugurar este piquenique desencontrado. É mais fácil escrevê-lo aqui do que lê-lo :)

Eclipse de Sangues

Num espaço
compartido
partilhado
?
encantado

organismos vivos
teorias poesias
assentam
na mesa

Os sete sóis
e
as sete luas
cruzam-se
com a forma redonda

desde sempre
e
para sempre

No horizonte
um pôr do sol vertical
um infinito molecular
de palavras mudas
desaprendidas
num universo sem nome

Sem palavras
Oxalá!
Poemas teoremas
Vivências
Cadências
estrelas em mim
se apagam

e a cor do teu sangue
anoitece no calor do meu

Rui Spranger disse...

Muito obrigado Virgínia por teres aceitado as desculpas e gostámos muito, mas mesmo muito do teu poema!

Anónimo disse...

Eu não levo farnel mas levo guitarra.